sexta-feira, 10 de novembro de 2017

A iniciação cristã e o Sínodo Arquidiocesano

Ilustração: Sergio Ricciuto Conte

Francisco Catão, teólogo com doutorado pela Universidade de Estrasburgo (França), foi professor no Instituto Pio XI e na Faculdade São Bento, autor de vários livros, tais como "O que é a Teologia da Libertação", "Em busca do sentido da vida" e "Espiritualidade cristã".

Pela primeira vez na história, a arquidiocese paulistana convoca um sínodo, no sentido canônico do termo. São Paulo assume assim uma posição pioneira. No momento em que o papa Francisco suscita, em toda a Igreja, um processo de sinodalidade, para enfrentar os grandes desafios de uma efetiva renovação, baseada nas propostas do Vaticano II, o Arcebispo de São Paulo nos convida a rever, comunitariamente, a prática evangelizadora de nossa arquidiocese.
No Brasil, a Conferência Episcopal acaba de publicar um itinerário para formar discípulos missionários, estabelecendo o roteiro da Iniciação à vida cristã (CNBB, Doc.107).
O episcopado brasileiro entende a iniciação cristã, “o catecumenato, como uma dinâmica, uma pedagogia, uma mística, que nos convida a entrar sempre mais no mistério do amor de Deus, um itinerário pedagógico que nunca acaba” (Doc. 107,56).
Sublinha, em particular, a importância da evangelização que lhe está na base, pois o anúncio de Jesus, o querigma, deve ser o ponto de partida de uma “progressiva introdução no mistério de Cristo, uma mistagogia, vivida na experiência comunitária” (Doc.107,60). Mistagogia que “nunca acaba” e que vale, portanto, não apenas para os novos membros da Igreja, mas para todos nós, que precisamos sempre nos alimentar do Evangelho, para sermos de fato cristãos no nosso modo de viver, edificando a Igreja.
Para ser cristão não basta ser membro da Igreja, saber o catecismo, praticar os mandamentos da Lei e receber os sacramentos de qualquer modo. Ser verdadeiramente cristão é agir como cristão em todos os momentos da vida pessoal e social, isto é, viver no Amor: cultivar a proximidade com Jesus no íntimo de nós mesmos e, em consequência, em todos os nossos relacionamentos pessoais e como cidadãos, agir como irmãos, na alegria do Evangelho e na liberdade.
As leis e as instituições são necessárias, mas a vida das sociedades, a começar pela Igreja, depende principalmente do espírito que anima as pessoas. Sendo que, na Igreja, Corpo de Cristo, esse espírito é o Espírito de Jesus, Espírito de Deus que em Jesus se manifestou, foi vivido e vive no Ressuscitado.
Eis porque não se pode reduzir a iniciação cristã à cultura religiosa ou até à teologia, nem à ação social ou política, por importante que sejam o saber e a vida humana, como o mostrou em profundidade Jesus, tendo vivido, como homem, em função do Reino de Deus, recomendando-nos que o buscássemos sempre em primeiro lugar, como fonte de sentido para toda nossa vida.
O Concílio Vaticano II, no seu projeto de renovação da Igreja, despertou-nos para a importância da evangelização, lembrando que ser cristão é agir, sempre e em todo lugar, segundo o Espírito de Jesus apoiando-nos uns aos outros, sendo Igreja, e abraçando a causa do Evangelho, a plena realização de todos os homens e mulheres como pessoas, na realidade de suas esperanças e de suas alegrias.
Que o Sínodo Arquidiocesano, de que somos todos chamados a participar, cada um na medida de sua própria responsabilidade como cristão, seja um momento de autêntica evangelização de nós mesmos, renovando-nos na alegria e na liberdade do Espírito.
Jornal "O São Paulo", edição 3174, 8 a 14 de novembro de 2017.

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