terça-feira, 20 de março de 2018

Celebrando o dia da Mulher

Ilustração: Sergio Ricciuto Conte

Angela Vidal Gandra Martins é Doutora em Filosofia do Direito (UFRGS)/ Sócia Advocacia Gandra Martins/Membro da Academia Brasileira de Filosofia.

A celebração do dia da Mulher é sempre uma ocasião de reflexão sobre o seu papel e o motivo pelo qual é destacada.... De fato, não há o dia do homem.... Há, portanto, uma diferença antropológica natural, ainda que goze da igualdade de direitos e oportunidades devida a cada ser humano.
Pensando no que queria compartilhar em torno desse dia, deparei-me com um texto de Fulton Sheen, filósofo americano muito profundo, mas prático, que, embora longo, gostaria de transcrever: “Imagine uma orquestra no palco diante de um maestro famoso que regerá uma linda sinfonia composta por ele mesmo. Cada membro da orquestra é livre para seguir o maestro e assim contribuir para a harmonia. Mas cada membro é também livre para desobedecer ao maestro. Suponha que algum dos músicos deliberadamente toque uma nota falsa e induza a violinista ao lado a fazer o mesmo. Ouvindo o desafino, o maestro poderia seguir duas alternativas: levantar a batuta e ordenar que recomeçassem a tocar ou ignorar o acorde destoante. De qualquer forma, sua atitude não faria nenhuma diferença visto que aquele acorde já foi para o espaço atingindo uma altura de mil e cem pés por segundo, seguindo adiante e afetando a infinitesimal pequena radiação do universo. Como uma pedra caída no lago causa uma ondulação que afeta a mais distante zona costeira, esse acorde afeta até mesmo as estrelas...Em algum lugar nesse universo de Deus soará essa desarmonia”.
Como a filosofia deseja estudar o mais profundo do ser, é óbvio que deve abrir-se à realidade tal como é intrinsecamente - the way things are -, como expressa o jusfilósofo Lon Fuller. Nesse sentido, li também recentemente uma narrativa em um periódico australiano que contava a história em quadrinhos de um pato que quis fazer uma operação para tornar-se ganso...
Partindo desses exemplos gráficos como inspiração, pensava em como a sociedade poderia ser se a mulher vivesse como tal; fosse respeitada como tal; amasse como tal;  vivesse seu destino antropológico maternal como tal; se lhe fosse totalmente permitida a prestação de sua original contribuição profissional em harmônica somatória de luzes; se se fizesse valer pelo que é, sem comparações e oposições, mas sim através da afirmação e maximização de sua unicidade  feminina..., ou seja, se cada mulher se decide a viver com profundidade seu papel na sinfonia sendo simplesmente e totalmente mulher e  trazendo sonora harmonia a toda sociedade através de sua contribuição única...
Utopia? Definitivamente não, já que a força da natureza - a força do ser! - é infinitamente maior do que a do não ser. Parabenizo, portanto a cada mulher por suas lutas positivas, convidando também a cada uma, e também a toda comunidade masculina, a refletir em como vivem - identidade -, e oferecem o espaço - reconhecimento - para que cada mulher seja cultivada e possa se realizar plenamente como tal, de forma que seus acordes harmonizem novamente a sociedade ecoando perenemente através do espaço e dos tempos.
Jornal "O São Paulo", edição 3190, 14 a 20 de março de 2018.

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