terça-feira, 20 de março de 2018

Empatia é o primeiro passo


Cristina Casagrande

No filme Cinderela em Paris (1957), o par romântico Jo Stockton (Audrey Hepburn) e Dick Avery (Fred Astaire) travam um diálogo importante sobre a noção de beleza que acaba resultando na importância da empatia – a arte de se colocar no lugar do outro. Nessa conversa, fica estabelecida a tese de todo o filme: a empatia atinge a essência das pessoas e tem raízes mais profundas que a mera aparência. Indo mais além, podemos dizer que o exercício da empatia não só é maior que a aparência, mas também é mais eficiente do que simplesmente as boas razões.
Ao se tratar da defesa pela vida, essa questão fica bastante evidente. Kristan Hawkins, presidente da Students for Life, ao receber o Prêmio Weyrich de Liderança Juvenil, em 2009, se pronunciou em meio a grandes aplausos: “Não cheguem até as pessoas com estatísticas sobre o aborto. Nós temos que relatar casos e histórias que mostram como o aborto fere a pessoa. As pessoas não querem saber o quanto você domina o assunto, mas o quanto você se importa com elas”. É claro que não devemos desconsiderar os números, eles são muito necessários, mas não se pode fazer disso nossa maior motivação.
É preciso saber se colocar no lugar do outro: quando falamos na defesa da vida, é necessário pensar em todas as vidas envolvidas, especialmente a mãe que está em crise para ter um bebê. Para isso, é preciso ouvir as necessidades dela e encontrar indentificações.
No livro Papa Francisco. Conversas com o Cardeal Bergoglio, o pontífice cita seu predecessor para exaltar a importância de escolher, em primeiro lugar, aquilo que une as duas partes, no exercício do apostolado. Citando as encíclicas de Bento XVI sobre a caridade e a esperança, Papa Francisco relembrou de quando seu predecessor foi à Espanha, e que todos esperavam que ele tocasse em temas polêmicos, mas Bento XVI preferiu falar primeiro de coisas positivas, para depois vir o resto. Francisco sintetizou o exemplo e a mensagem de Ratzinger dizendo que é necessário priorizar o que nos une: “Assim será mais fácil abordar num momento posterior as diferenças”.
Na comunicação em defesa pela vida, é preciso colocar a empatia em prática, ao mostrar, como bem disse Kristan Hawkins, que nos importamos com as mães dos nascituros, os pais e todas as pessoas envolvidas nesse processo de dar à luz uma criança – e no que vem depois também: a difícil tarefa de criá-las. Para isso, é preciso saber ouvir as reivindicações daqueles que apoiam a descriminalização do aborto.
Os argumentos são diversos: o aborto é um caso de saúde pública; a mãe tem sérias condições físicas e psicológicas que a impossibilitam de ter um bebê; a situação econômica em que ela vive não lhe dá chances de criar uma criança etc. Diante desses argumentos, a comunicação deve estar, em primeiro lugar, pronta para ouvir, para então transmitir mensagens que demonstram compreensão diante da dor do outro e só depois dar o próximo passo.
Esse passo seguinte deve ter muito claro a ideia de que o aborto é algo que não só atinge a criança, mas algo que machuca física, social e psicologicamente a mãe. Nesse sentido, devemos estabelecer uma comunicação positiva, que exalte a importância e a força da mulher e o quanto nos preocupamos com ela e com seu entorno. Nunca é tarde para lembrar que cuidar da mãe é cuidar do bebê e vice-versa, e a comunicação tem um papel essencial nessa missão.

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