Cristina Casagrande
No filme Cinderela em Paris (1957), o par romântico Jo
Stockton (Audrey Hepburn) e Dick Avery (Fred Astaire) travam um diálogo
importante sobre a noção de beleza que acaba resultando na importância da
empatia – a arte de se colocar no lugar do outro. Nessa conversa, fica
estabelecida a tese de todo o filme: a empatia atinge a essência das pessoas e
tem raízes mais profundas que a mera aparência. Indo mais além, podemos dizer
que o exercício da empatia não só é maior que a aparência, mas também é mais
eficiente do que simplesmente as boas razões.
Ao se tratar da defesa pela vida, essa questão fica bastante evidente.
Kristan Hawkins, presidente da Students for Life, ao receber o Prêmio Weyrich
de Liderança Juvenil, em 2009, se pronunciou em meio a grandes aplausos: “Não
cheguem até as pessoas com estatísticas sobre o aborto. Nós temos que relatar
casos e histórias que mostram como o aborto fere a pessoa. As pessoas não
querem saber o quanto você domina o assunto, mas o quanto você se importa com
elas”. É claro que não devemos desconsiderar os números, eles são muito
necessários, mas não se pode fazer disso nossa maior motivação.
É preciso saber se colocar no lugar do outro: quando falamos na defesa da
vida, é necessário pensar em todas as vidas envolvidas, especialmente a mãe que
está em crise para ter um bebê. Para isso, é preciso ouvir as necessidades dela
e encontrar indentificações.
No livro Papa Francisco. Conversas com o Cardeal Bergoglio, o pontífice
cita seu predecessor para exaltar a importância de escolher, em primeiro lugar,
aquilo que une as duas partes, no exercício do apostolado. Citando as
encíclicas de Bento XVI sobre a caridade e a esperança, Papa Francisco
relembrou de quando seu predecessor foi à Espanha, e que todos esperavam que
ele tocasse em temas polêmicos, mas Bento XVI preferiu falar primeiro de coisas
positivas, para depois vir o resto. Francisco sintetizou o exemplo e a mensagem
de Ratzinger dizendo que é necessário priorizar o que nos une: “Assim será mais
fácil abordar num momento posterior as diferenças”.
Na comunicação em defesa pela vida, é preciso colocar a empatia em
prática, ao mostrar, como bem disse Kristan Hawkins, que nos importamos com as
mães dos nascituros, os pais e todas as pessoas envolvidas nesse processo de
dar à luz uma criança – e no que vem depois também: a difícil tarefa de
criá-las. Para isso, é preciso saber ouvir as reivindicações daqueles que
apoiam a descriminalização do aborto.
Os argumentos são diversos: o aborto é um caso de saúde pública; a mãe tem
sérias condições físicas e psicológicas que a impossibilitam de ter um bebê; a
situação econômica em que ela vive não lhe dá chances de criar uma criança etc.
Diante desses argumentos, a comunicação deve estar, em primeiro lugar, pronta
para ouvir, para então transmitir mensagens que demonstram compreensão diante
da dor do outro e só depois dar o próximo passo.
Esse passo seguinte deve ter muito claro a ideia de que o aborto é algo
que não só atinge a criança, mas algo que machuca física, social e
psicologicamente a mãe. Nesse sentido, devemos estabelecer uma comunicação
positiva, que exalte a importância e a força da mulher e o quanto nos
preocupamos com ela e com seu entorno. Nunca é tarde para lembrar que cuidar da
mãe é cuidar do bebê e vice-versa, e a comunicação tem um papel essencial nessa
missão.
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