Francisco Catão,
teólogo, foi professor no Instituto Pio XI e na Faculdade São Bento, autor de
vários livros, tais como “O que é a Teologia da Libertação”, “Em busca do
sentido da vida” e “Espiritualidade cristã”.
O tema da Campanha
da Fraternidade este ano é absolutamente central no Magistério do Papa
Francisco. Faz parte do que há de mais marcante no seu ministério.
Para começar, é um
dos quatro grandes princípios que comandam a Doutrina Social da Igreja no seu
programa de governo, a Exortação Apostólica Alegria do Evangelho (AE, cap. IV,
226-230) e figura também no centro de sua principal Encíclica, a Laudato si’,
como expressão da “ecologia integral” (cf. LS, cap. IV, 137-162).
Na Exortação
Apostólica, explica que no contexto secularizado do mundo atual, a Igreja, pela
sua vida e doutrina, é testemunha de Jesus. Não lhe compete a tarefa de indicar
como se deve organizar a sociedade. Tal tarefa temporal é da responsabilidade
pessoal e coletiva de todos, envolvendo os cristãos, leigos, religiosos ou
clérigos, por uma vida comprometida na família, no trabalho, e/ou em movimentos,
partidos, organizações e outras instituições adequadas.
A ação social,
política e econômica dos cristãos deve sempre visar à paz, sem todavia,
dissimular ou ignorar os conflitos, mas também sem jamais recorrer a qualquer
espécie de violência, a exemplo de Jesus, de quem devemos dar testemunho.
A Laudato Si, por
sua vez, interpreta a forma com que tratamos o planeta como um sintoma da
violência que habita em nossos corações (LS 2). O pecado
manifesta-se hoje, com toda a sua força de destruição nas várias formas de
violência social (LS 66).
No mundo e no nosso país, temos vivido desde o terrorismo,
até as mais diversas formas de violência, explícita ou dissimulada, como
reconhecem os muitos textos da CF 18.
A liberdade do ser humano, que não é plenamente autônomo,
adoece quando este se entrega às forças cegas do inconsciente, das necessidades
imediatas, do egoísmo e da violência (LS 105), fruto de uma visão que confere
ao homem um poder ilimitado sobre o mundo e consolida o arbítrio do mais forte,
favorecendo as imensas desigualdades, injustiças e violências para a maior
parte da humanidade (LS 82).
Dante disso, qualquer solução técnica que as ciências,
através das várias organizações temporais, pretendam oferecer, embora
indispensáveis, será insuficiente para resolver os graves problemas da
violência. Ela é sempre uma ofensa a Deus uma infidelidade ao Evangelho. Será
preciso fazer apelo aos crentes para que sejam coerentes com a sua própria fé e
não a contradigam com as suas ações (cf. LS
200).
As religiões, contudo, quando pactuam até se vinculam ao
poder político, são tentadas a adotar práticas de violência. Francisco entende
que esse comportamento ambíguo e inaceitável provém não tanto de uma autêntica
tradição religiosa, mas de determinismos culturais contrários ao seu espírito (cf. LS 200).
O anúncio do Evangelho começa sempre com a saudação de paz,
que supõe uma fraternidade oposta a toda forma de violência, possível apenas,
na medida em que nos confiamos ao Senhor que venceu o mundo e sua permanente
conflitualidade, “pacificando-o pelo sangue da sua cruz” (Col 1, 20) (LS 229).
Cristãos, devemos poder rezar o “Pai nosso” como filhos agradecidos,
unidos no perdão, dizendo: “perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós
perdoamos aos que nos têm ofendido”. Superamos assim a violência com o amor fraterno,
que convive com as diferenças: ”vejam como eles se amam!”.
Jornal "O São Paulo", edição 3188, 28 de fevereiro
a 3 de março de 2018.
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